Por Osmarina Vyel.
- Qual foi o maior desafio quando iniciou o coworking? Como superou?
Achava que era levantar o dinheiro e construir o prédio, mas depois de pronto me deparei com o desafio de me tornar empresária, pois até então, eu era apenas uma psicóloga com sonho de ter um espaço com vários profissionais trabalhando juntos na famosa Saúde Integrada.
Para superar tive primeiro que aceitar que a minha vida não seria mais a mesma e que precisava falar a linguagem empresarial, depois comecei a buscar vários cursos e ferramentas para deixar a empresa adequada ao prédio e ao sonho que, agora, havia se materializado.
- Existe algum motivo especial que a fez escolher esse modelo de negócio?
Eu sempre entendi que a vida de um profissional da saúde é muito solitária, pois por muito tempo, eu mesma pude experimentar a vida de consultório sem ter outros profissionais de outras áreas para complementar os tratamentos, além de diminuir absurdamente os custos de um consultório de um profissional só, fica mais gostoso poder contar com ajuda de outros profissionais em casos mais complexos.
- Hoje o modelo de negócio de coworkings tem se tornado popular, mas antes não era, quando fundou o Saúde Integrada, você sentiu alguma resistência das pessoas? Como foi?
Senti e ainda sinto, muitos profissionais ainda têm apegos ao seu próprio consultório e desconhecem as vantagens de estar num espaço compartilhado. Os pontos principais, custo de tempo e dinheiro são muito menores que as estruturas antigas. O profissional foca apenas em seu trabalho e não fica perdendo tempo com infinitas outras demandas que não fazem parte da sua especialidade.
É muito frustrante você se tornar um especialista e se ver perdendo tempo e dinheiro, pensando que tem que trocar a lâmpada, chamar o pedreiro, ver porque a conta não veio, ir ao mercado comprar produtos e assim por diante.
Você pode até escolher ter um ou dois funcionários, aí terá que administrar recursos humanos para treinar estes funcionários, ficar de olho para saber se tudo está saindo de acordo, conhecer as leis trabalhistas, enfim são muitas demandas. Como digo, aquele que tem espírito inovador vai para um coworking e nunca mais vai querer outra vida. Pois é só chegar e trabalhar, o restante está tudo pronto.
A qualidade de vida que se ganha é imensurável.
- Quais comportamentos e habilidades você considera mais importantes para um empreendedor?
Força de vontade, humildade e estar aberto para o novo, pois a partir do instante que a pessoa dá o passo para empreender ela vai se deparar com muita coisa que não imaginava existir em seu negócio.
Haverá momentos que precisará de ajuda para ampliar seus conhecimentos.
Digo que é uma lapidação constante e não dá para querer resolver tudo, pois diariamente tem assuntos novos para administrar. Como empreendedor você aprende a ser tranquilo, sabendo responder às demandas diariamente sem ansiedade de achar que alguns aspectos serão resolvidos antes da hora. Há situações em que precisamos aprender a ser bons observadores e aguardar a resolução por si só. Você precisa estar em paz e dizer: fiz tudo o que estava ao meu alcance agora é esperar.
- Como foi enfrentar a pandemia no seu negócio e que conselho você pode dar para os empreendedores nesse momento?
No primeiro momento foi assustador, pensei que íamos fechar as portas. O custo de um coworking é alto e eu dizia para minha equipe: como vamos pagar com tudo fechado?
Aí descobrimos que a parceria é fundamental para a sobrevivência e o crescimento de uma empresa. Até então só havia ouvido falar das parceiras nos cursos, mas não tinha vivido de perto a importância desses laços.
Aos poucos fomos nos acostumando com essa realidade e voltamos a sonhar e seguir em frente, traçando objetivos, metas e nosso faturamento se manteve até então. Não crescemos, mas também não fechamos as portas.
A minha sugestão para os empreendedores é: não queiram passar por isso sozinhos, procurar ajuda faz parte. Hoje tem muita coisa gratuita que pode dar força e não só ajudar em relação ao trabalho, mas principalmente em autoconhecimento, pois as grandes amarras estão no emocional e no mental, na forma de olhar para seu negócio. Os apegos e a dificuldade de inovar gera muitos transtornos para os empreendedores.
A pandemia nos trouxe um ponto muito importante: ser empreendedor é ser inovador diariamente.
O que nos salvou, foi exatamente isso, eu e a minha equipe buscamos sempre inovar antes de precisar. Quando a pandemia chegou estávamos com a empresa em dia e saudável.
- Você se inspira em outras pessoas e histórias? Quais?
Na verdade não. Eu sempre me inspirei em minhas telas mentais, o que minha intuição diz e ouço muito a minha equipe para ajudar a aparar as minhas ideias quando as trago para luz da realidade.
Quando comecei não havia espaço compartilhado e eu segui meu coração, pois sentia na pele quanto era difícil manter um consultório sozinha.
Tenho uma característica que tudo que descubro quero compartilhar e este método de trabalho também foi assim.
- Você tem algum sonho que ainda não realizou?
Eu quero compartilhar meus conhecimentos com mais pessoas através de cursos, palestras e livros. Considero este meu último investimento e legado para este tempo que chamamos de vida, pois para cada empreendimento que realizei até então eu me dediquei de corpo e alma. Sou por natureza uma idealista, mas já estou fisicamente cansada e também sei que para cada coisa que materializo passo a ser a responsável. Me sinto satisfeita e agradecida por tudo que realizei. Hoje compreendo que a cada sonho realizado é um processo de lapidação para nossa própria evolução.
- Como um empreendedor iniciante pode encontrar oportunidades de negócios, assim como você encontrou?
Minha sugestão é não colocar em pauta apenas o dinheiro e sim as realizações. Então terá que prestar atenção em qual é o seu dom, o que faz seu coração cantar. Do contrário, não terá motivação em resolver os obstáculos quando surgirem e estes são inevitáveis, por mais que seja planejado e tenha planos estratégicos as novidades virão para te testar diariamente.
- Existe um segredo para construir um negócio de sucesso?
Força de vontade, resiliência. Mesmo fazendo o que você ama na hora da dificuldade da vontade de desistir. Por isso, a força de vontade precisa ser grande, estar aberta para ir além do que você imaginou e ser flexível com as possibilidades que surgirão.
Como se fosse a água, ele desvia das pedras e não perde de vista onde precisa chegar, um pouco dela pode até se perder no caminho, mas no final ela chega no mar. Essa parte que se perde, compreendo que é a ilusão que todo sonho tem, mas quando este sonho é verdadeiro a lapidação vale a pena.
- O que os empreendedores podem esperar para o cenário econômico brasileiro?
Ano de 2022, ano de eleição e mais o estrago da pandemia, não acredito que será melhor que este ano. Mas, nem por isso não vamos traçar metas, objetivos e arregaçar as mangas e fazer dar certo. A energia física, mental e emocional movem montanhas.
Vamos mirar no mar e vamos desviar das pedras, afinal é o caminho que importa. Um empreendedor será sempre um empreendedor, pois ele sabe que só trabalhando e aprendendo com os obstáculos haverá evolução pessoal e social.
Por isso, digo aos empreendedores: qual graça teria a vida se não houvesse obstáculos para ser vencido? Pois é através deles que temos a grande chance de enxergar o novo, o inusitado, o mágico da vida.